A Fifa apoia a medida adotada para punir o Grêmio na Copa do Brasil,
enquanto a entidade que combate o racismo no futebol apela ao time
gaúcho a abrir mão de um recurso para evitar a exclusão da competição
nacional. "O Brasil mandou a mensagem certa", declarou Joseph Blatter,
presidente da Fifa. "Eu disse que o futebol precisa ser duro ao lidar
com os abusos racistas", insistiu.
O Grêmio deve aceitar a punição como forma de mandar uma mensagem clara a seus torcedores e ao mundo de que não aceitará um comportamento racista. O pedido é da principal entidade de combate ao racismo no futebol, a Fare, com sede em Londres. Em declarações à reportagem, Piara Powar, secretário-geral da entidade, elogiou a decisão sobre o time gaúcho e apontou que a medida pode se transformar em exemplo no mundo.
O Grêmio deve aceitar a punição como forma de mandar uma mensagem clara a seus torcedores e ao mundo de que não aceitará um comportamento racista. O pedido é da principal entidade de combate ao racismo no futebol, a Fare, com sede em Londres. Em declarações à reportagem, Piara Powar, secretário-geral da entidade, elogiou a decisão sobre o time gaúcho e apontou que a medida pode se transformar em exemplo no mundo.
No
julgamento desta quarta-feira, o clube gaúcho ainda foi multado em
R$ 50 mil, enquanto os torcedores gremistas que foram identificados
com autores das ofensas raciais estão proibidos de frequentar
estádios por 720 dias. O caso aconteceu na última quinta, quando o
Santos venceu por 2 a 0, na Arena Grêmio, em Porto Alegre, pelas
oitavas de final da Copa do Brasil, e Aranha foi vítima de insultos
quando estava em campo.
"O
preconceito é uma erva daninha que tem se espalhada pelo Brasil e
tem que ser eliminada", afirmou o relator do processo, Francisco
Pessanha Filho, ao abrir os votos pedindo a exclusão do Grêmio da
Copa do Brasil. Ele disse ainda que "não é este tribunal que
está manchando a história do clube e, sim, aqueles torcedores".
Também
julgado, o árbitro do jogo, Wilton Pereira Sampaio, foi suspenso por
45 dias e multado em R$ 800,00. Os auxiliares Kleber Lúcio Gil e
Carlos Berkenbrock, por sua vez, receberam pena de 30 dias de
suspensão e R$ 500,00 de multa.
Com
a punição aplicada ao Grêmio pelo STJD, o Santos garante vaga nas
quartas de final da Copa do Brasil. O jogo de volta entre os dois
times pelas oitavas de final seria realizado na noite desta
quarta-feira, na Vila Belmiro, mas foi adiado ainda na semana
passada, diante do julgamento do caso de racismo. Agora, não
precisará mais acontecer.
TESTEMUNHOS
- Dentre as provas em vídeo apresentadas, a procuradoria do STJD
exibiu imagens e reportagens de programas de TV que mostravam os
insultos ao goleiro Aranha. Um vídeo da torcida "Geral do
Grêmio" chamando a torcida do rival Inter de "macacada"
no jogo de domingo, contra o Bahia, também foi mostrado. Já a
defesa apresentou imagens de campanhas contra o racismo promovidas
pelo clube gaúcho ainda no ano passado, bem como reportagens
mostrando as medidas tomadas para identificar os atos da quinta-feira
passada.
"A
decisão desta tarde tem uma importância histórica para o Grêmio
como instituição", afirmou o presidente do clube gaúcho,
Fábio Koff, o primeiro a testemunhar para os auditores. "Atinge
a história do clube, que desfila com uma estrela em sua bandeira do
primeiro atleta do Grêmio campeão mundial", continuou, em
referência a Everaldo, campeão com a seleção em 1970 e que era
negro. "A pena aqui aplicada, se ocorrer, deve ter um sentido
pedagógico. Ela não pode ultrapassar o limite do razoável",
pediu.
Na
sequência, o árbitro Wilton Pereira Sampaio depôs na condição de
acusado - a arbitragem foi denunciada por não relatar os atos na
súmula, apenas num adendo enviado horas mais tarde. E, ao fazer sua
defesa, ele acabou ajudando também à defesa do Grêmio.
"Não
presenciamos nada (injúria racial). Foi o relato do Aranha. Achamos
que o goleiro queria ganhar tempo, já que o jogo se encaminhava para
os acréscimos", alegou Wilton Pereira Sampaio. "Deixei
para relatar no hotel porque durante o jogo e ao final não foi nos
informado (pelo restante da arbitragem)", continuou. "Fiquei
assustado com o fato ocorrido (após ver pela imprensa) e fiz o
adendo", explicou o árbitro.
ACUSAÇÃO
- Em sua explanação, o subprocurador geral do STJD, Rafael
Vanzin, lembrou que o Grêmio é reincidente - o clube foi denunciado
anteriormente pelos xingamentos contra o zagueiro Paulão, do Inter,
na partida de ida das finais do Campeonato Gaúcho, em março. Na
ocasião, o clube foi punido com multa pelo TJD gaúcho - o caso
ainda terá uma decisão final no Pleno do STJD.
Vanzin
também afirmou que as medidas que vêm sendo tomadas pelo Grêmio
não têm surtido efeito. "Elas não têm trazido o caráter
pedagógico à torcida", disse, pedindo aplicação de multa
elevada e exclusão do time da Copa do Brasil. Ele ressaltou ainda
que o artigo 243-G, pelo qual o clube foi denunciado, não prevê
isenção de pena caso sejam identificados os autores.
O
subprocurador também citou postagens de um dos vice-presidentes do
Grêmio, Adalberto Preis, que na segunda-feira publicou em uma rede
social que o goleiro Aranha estaria encenando. "Daqui a pouco
ele vai alegar que o atleta Aranha não é afrodescendente",
ironizou.
DEFESA
- Um dos advogados do clube gaúcho disse que "o Grêmio não
nega o fato", mas ressaltou que todas as medidas possíveis
foram tomadas. "O Grêmio agiu preventivamente, agiu durante o
jogo e agiu repressivamente tentando identificar os torcedores",
afirmou Gabriel Vieira.
O
defensor disse ainda que a denúncia tentava fazer do clube um bode
expiatório. "O que me parece aqui é uma caça às bruxas:
encontra o Grêmio, encontra a menina (identificada por imagens de TV
chamando Aranha de macaco), e joga na fogueira", discursou.
O
advogado criticou o preconceito e a discriminação, e fez uma
observação. "Não temos um auditor negro neste tribunal",
lembrou Gabriel Vieira. No plenário, um representante de um
movimento negro balançou a cabeça positivamente nesse momento.
Michel
Assef Filho, que também atuou na defesa do Grêmio, foi mais técnico
em sua explanação. "Se existe um dispositivo específico para
punição, que é a aplicação de multa, não pode passar disso",
afirmou o advogado, alegando que o clube não poderia ser excluído
da Copa do Brasil. Ele chegou a pedir a absolvição gremista,
afirmando que o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD)
apenas "sugere" a aplicação de multa.
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