Mais da metade das crianças na Bahia tem privação de renda. São meninas e meninos, de 0 a 17 anos, que vivem abaixo da linha da pobreza monetária. Entre 2019 e 2022, o analfabetismo dobrou no Brasil.
Na Bahia, no ano passado, 10,91% das crianças sofriam restrição na educação, ou seja, não frequentavam a escola ou frequentavam com atraso. Os dados fazem parte de uma pesquisa realizada pela Unicef, divulgada nesta terça-feira (10).
Essa é a terceira edição do estudo que analisa a Pobreza Multidimensional na Infância e na Adolescência. São observados seis eixos: Educação, Informação, Moradia, Água, Saneamento e Renda.
Na Bahia, 75,3% das crianças sofrem algum dessas privações, percentual acima da média nacional (60,5%). O número mais expressivo é o da renda. A pesquisa apontou que 53,54% dos pequenos vivem abaixo da linha da pobreza.
O estudo é dividido em duas categorias. A privação intermediária é quando há acesso ao direito, mas de maneira limitada ou com má qualidade.
Já privação extrema é quando não há acesso ao direito. O especialista em políticas públicas da Unicef, Santiago Varella, afirma que cerca de 31,9 milhões de crianças e adolescente vivem na pobreza multidimensional no Brasil.
“São pessoas com renda insuficiente. Crianças que são analfabetas, ou estão em atraso escolar ou fora da escola. Elas estão dormindo em cômodos com quatro ou mais pessoas, em casas de material reaproveitado, sem banheiro, com fossas rudimentares ou até mesmo com valas a céu aberto como forma de saneamento, além disso sem água canalizada. São situações extremas e que configuram pobreza”, afirmou.
Os pesquisadores também fizeram uma análise para saber se a renda da família é suficiente para que a criança tenha uma alimentação adequada. Quem recebe menos de R$ 541 por pessoa está em privação intermediária, porque está abaixo da linha da pobreza monetária. Se o valor for inferior a R$ 220, então é considerada situação de extrema pobreza. O valor é de R$ 386 e R$ 180, respectivamente, para quem vive na zona rural.
A costureira Rita da Silva, 45 anos, mora em Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, e tem uma renda mensal de cerca de R$ 1,2 mil. O valor oscila porque é a soma do programa bolsa família mais os serviços autônomos, e sustenta duas crianças e uma adolescente, além dela.
“A gente faz mágica para conseguir fazer o dinheiro render. Eu não moro de aluguel, então, já sobra um pouco mais, mas não posso dá a meus filhos tudo o que eles pedem e merecem. Não estou falando de luxo, estou falando do básico, como refeições completas todos os dias, roupa e calçado. Eu tento proteger as crianças oferecendo o melhor que posso, mas ainda é pouco”, desabafou.
A pandemia e a inflação contribuíram para esse cenário, e o futuro não parece muito animador. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no 2º trimestre de 2023, a taxa de desocupação na Bahia ficou em 13,4%, foi a 2ª maior do país. No mesmo período, o rendimento médio real (descontados os efeitos da inflação) mensal habitualmente recebido por todos os trabalhos no estado ficou em R$ 1.836, o mais baixo do país.
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