segunda-feira, 8 de março de 2021

MINISTÉRIO PROJETA PARA BREVE 3 MIL MORTES DIÁRIAS E AS DUAS PIORES SEMANAS DA PANDEMIA

O primeiro espanto surgiu na última quarta-feira, data em que a contagem de mortes diárias causadas no país pela covid atingiu a marca de 1.840 vítimas, o mais alto número registrado desde o início da pandemia. O segundo veio dois dias depois, quando o jornal Valor Econômico divulgou projeções feitas pela cúpula do Ministério da Saúde de que, ainda este mês, o Brasil terá 3 mil óbitos a cada 24 horas e viverá nas duas próximas semanas o pior momento da escalada do coronavírus em território nacional. 


A dimensão da tragédia humana que aponta no horizonte pode ser melhor compreendida se o olhar for além da frieza estatística. Caso a nova estimativa se confirme - e os sinais indicam uma probabilidade muito alta de que isso aconteça -, o Brasil verá desaparecer por dia a população de cidades pequenas como Maetinga, na Bahia, onde vivem 2.764 pessoas. Em uma semana, a conta chegaria a 21 mil mortos, soma equivalente aos habitantes de municípios do interior do estado do porte de Madre de Deus, Ibicaraí e São Felipe.

Ao prever tamanho salto na mortalidade, os técnicos do ministério se basearam em uma conjunção de fatores que, segundo o Valor, formaram a "tempestade perfeita": alastramento do vírus em todo o país, impulsionado pelas aglomerações no fim do ano e no Carnaval; recusa da população em manter o isolamento social; circulação de novas variantes com grande poder de contágio e alta carga viral; iminência de colapso simultâneo na rede hospitalar de diversos estados; e, óbvio, a falta de vacinas disponíveis para imunizar os brasileiros com rapidez.

Embora o Brasil inteiro esteja em nível crítico ou muito perto dele, o Sul ocupa hoje o topo das preocupações, segundo o panorama traçado pela pasta. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a taxa de ocupação das UTIs atingiu 100% ou ficou perto disso ao longo da semana. Mas o alerta de perigo já disparou também em Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Bahia, que registrou novo recorde de mortos no último dia 26, com 137 vidas abreviadas pela doença. Desde então, o número ficou quase sempre acima das 100 vítimas fatais.

Sinais locais


Os dados recentes da capital também reforçam o cenário previsto pelo ministério. Em Salvador, o número de mortes diárias mais que quadruplicou nos últimos 15 dias. Em 19 de fevereiro, foram 12. Uma semana depois, pulou para 56, marca similar à da quinta passada, com 54 óbitos. Apesar dos esforços de autoridades do estado e do município, eles não foram suficientes para frear o galope fatal. No máximo, reduziram  a marcha.

Em coletiva concedida na sexta-feira - quando o toque de recolher e o lockdown parcial completaram, respectivamente, 15 e 8 dias -, o prefeito Bruno Reis (DEM) destacou que as medidas ainda não surtiram efeito e nem conseguiram reduzir a pressão no sistema de saúde, mesmo com a série de iniciativas adotadas pelo município para ampliar a rede de atendimento e impedir o colapso, cada vez mais real: aumento de leitos de UTI, reabertura de gripários e criação de hospitais de campanha.

Para reverter de imediato a curva , disse o prefeito, só há um jeito: convencer a população a cumprir isolamento. Sair de casa apenas se necessário e com protocolos de segurança, tais como máscara, distanciamento social e rapidez. “É fundamental o apoio de todos. A realidade é que estamos em pré-colapso na saúde, com  mais pessoas nas UPAS do que leitos (para interná-las)”, afirmou. Sem isso, a covid varrerá uma Maetinga por dia no país. E a Bahia sozinha, com mais de 12 mil mortos, já perdeu cerca de quatro delas na pandemia.

Prefeito diz que evitará lockdown total até o limite

Ao comentar a possibilidade de endurecer ainda mais as restrições diante das projeções de alta da covid, o prefeito Bruno Reis destacou que trabalha ao máximo para evitar um lockdown total em Salvador por conta das condições  sociais da capital. “O lockdown traz consequências econômicas graves. Sabemos da dura realidade de pobreza em nossa cidade, do quanto as pessoas dependem do comércio informal para garantir o seu sustento”, explicou.

“Nós contamos com todas essas medidas tomadas até aqui: ampliação de leitos, benefícios sociais como o auxílio emergencial, distribuição de cestas básicas, (ações) convencendo moradores de rua a aceitar acolhimento, disponibilização de máscaras, higienização de estações de transbordo, de ônibus, das áreas com concentração comercial maior da cidade e todo o processo de vacinação”, disse.

De acordo com Bruno Reis, a estratégia em Salvador continuará a ser  a de “olhar o filme”, analisando os dados por regiões e realizando eventuais bloqueios localizados. “Essa estratégia até então tem evitado o colapso, e esperamos que ela possa seguir assim, para não termos que adotar medidas mais restritivas”, afirmou.

Bruno Reis também sinalizou preocupação com o impacto nas contas públicas. Salvador,  disse o prefeito,  está gastando R$ 26 milhões por mês com saúde do próprio bolso: “O município não tem condições de continuar com esse volume de investimento por mais seis meses”.

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