O Brasil chegou ao Mundial da Espanha com uma geração de jogadores em
fase final de carreira, marcada por um jejum histórico contra a
Argentina. Nenê, Varejão, Marquinhos, Leandrinho, Alex, Splitter,
Giovannoni, Huertas e cia agora estão nas quartas de final de um
Mundial, a um jogo de brigar por uma medalha que não vem desde 1970.
Esses craques todos devem muito a Raulzinho. Afinal, foi o único garoto
da geração de veteranos quem, com 21 pontos e uma atuação
irrepreensível, comandou o Brasil em históricos 85 a 65 sobre a
Argentina em Madri, neste domingo. Luis Scola, é importante contar, fez
nove pontos.
Na próxima fase, quarta-feira, os comandados de Ruben Magnano vão
reencontrar a Sérvia, a quem já venceram na primeira fase, em outra
grande atuação. Depois, quem avançar pega Espanha ou França na
semifinal.
Para explicar a atuação de Raul Togni Neto, o Raulzinho, de 21 anos,
atleta mais jovem da última Olimpíada, um número: 25. Durante os
24min20s em que o armador esteve em quadra, o Brasil fez 25 pontos a
mais do que a Argentina. Dos 10 arremessos de quadra que ele tentou,
acertou nove, sendo dois de três pontos. Na linha do lance livre,
acertou as duas tentativas.
A vitória lava a alma de uma geração que vai entrar para a história por
ter aberto as portas da NBA para o Brasil. Mais do que isso, uma
geração marcada por críticas por ter, cada um pelo seu motivo, em
diversas ocasiões, ter recusado convocações para defender o Brasil em
competições oficiais.
Se fosse por méritos de quadra, o Brasil não deveria nem estar no
Mundial. Afinal, com um time B, não conseguiu a vaga pela Copa América.
Ganhou um convite para a competição porque prometeu escalar Splitter,
Nenê e todas as estrelas do basquete brasileiro.
Mas, em quadra, o Brasil mereceu muito a vitória sobre a Argentina,
neste domingo, curiosamente em um 7 de setembro. Afinal, há quatro anos,
foi exatamente em um feriado da Independência que a Argentina venceu
nas oitavas de final do Mundial da Turquia, com 37 pontos de Luis Scola.
O pivô, depois, faria 17 nas quartas de final dos Jogos Olímpicos,
quando a Argentina ganhou de novo.
Scola, assim, tornou-se um ícone do domínio argentino no clássico nas
últimas duas décadas. Tudo começou no Mundial de 2002, quando ele fez 11
pontos em uma vitória do seu país. Depois, o pivô seria algoz na Copa
América de 2007, que tirou o Brasil dos Jogos de Pequim/2008, e também
na final da Copa América de 2011, na Argentina. Bem marcado, foi muito
mal neste domingo.
O JOGO - Antes da partida, especulou-se que o Brasil entraria em quadra
com Raulzinho no lugar de Marcelinho Huertas. A explicação estaria na
estratégia que a Argentina usou para vencer na Olimpíada. No primeiro
quarto em Londres, o armador brasileiro teve liberdade para chegar à
cesta. Era proposital. Depois, quando seus espaços foram fechados até a
cesta, seus companheiros não tinham ritmo de jogo.
Huertas, porém, começou como titular. Ele até fez a bola rodar no
ataque, mas a Argentina estava precisa na bola de três. Pelas mãos de
Prigioni, os argentinos fecharam o primeiro quarto em 21 x 13. Com Nenê
no time, o Brasil melhorou e até conseguiu encostar, indo para o
intervalo apenas três pontos atrás: 36 x 33.
A sensação é de que havia ficado barato para o Brasil. Raulzinho entrou
porque Huertas estava carregado de faltas. Naquele momento, Marquinhos
era o ala da equipe, que perdia por 36 x 35. No lance seguinte, o Brasil
passaria à frente pela primeira vez na partida.
Raulzinho foi perfeito, mas há de ser destacada também a atuação de
Anderson Varejão. Afinal, o pivô colheu cinco rebotes ofensivos e deu
show de raça. Na defesa, com ele, Nenê, Marquinhos, Alex e Raulzinho, o
Brasil fechou os espaços para a Argentina e partiu para o contra-ataque.
O terceiro quarto terminou com 57 x 49 e a sensação que o jogo não
escaparia das mãos brasileiras. Com a frieza de veterano, Raulzinho
garantiu que nada mudaria. Só no último quarto, fez 14 pontos. Ficará
para sempre marcado como o herói da vitória histórica deste domingo.
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