segunda-feira, 4 de agosto de 2014

'TENTEI FAZER O QUE PUDE PELO MEU FILHO', DIZ PAI DE ATACADO POR TIGRE

Um menino de 11 anos foi atacado por um tigre em um zoológico e acabou perdendo um braço. Em entrevista exclusiva, o pai, que estava com o garoto na hora da tragédia, conta pela primeira vez como foi que tudo aconteceu. “Sabe o que que ele gritou a primeira hora que ele falou que ele estava sem braço? Ele falou assim: 'não mata o tigre'. Sem o braço! Ele só pensou no tigre, em primeiro lugar”, lembra Marcos Rocha. 

Esta é a primeira vez em que Marcos do Carmo Rocha tenta explicar a tragédia que aconteceu com o filho, esta semana, no Zoológico de Cascavel, no Paraná. Na quarta-feira (30), Marcos tinha levado os dois filhos - Vrajamany, de 11 anos, e Lorenzo, de 3 - para um passeio de férias. 

“Passear no zoológico é uma coisa comum. Eu e meu filho gostamos dessa natureza, eu trago a proximidade com a natureza e com os animais para eles. Ele tem dois cachorrinhos, e tem um coelho comigo”, conta. 
Um vídeo feito antes do ataque mostra Vrajamany agachado na área que é proibida aos visitantes. Fica entre a cerca e a grade da jaula. Quando o menino mexe no bolso, o leão reage. Ele tira um osso de galinha e oferece ao animal, que não mostra interesse.
Repórter: Da onde que surgiram esses ossos de galinha?


Marcos: A gente tinha almoçado no restaurante um pouco antes. E eles têm hábito de pegar para dar para os cachorros.
Repórter: Na rua?
Marcos: É. Almoça e leva os ossos para dar para os cachorros.
Repórter: E aí tinha osso, ele resolveu fazer a mesma coisa lá no zoológico.
Marcos: Ele guardou para dar para os cachorros.
A área restrita conta com sinalização: ‘perigo, não ultrapasse’. Mesmo assim, Marcos acha que a situação estava sob controle. “O leão estava muito tranquilo, manso, as pessoas que estavam em volta se envolveram de uma certa forma como uma coisa bacana, estavam curtindo a situação. Eu fiquei meio... Vacilei. Mas, logo que ele saiu, eu falei para ele que não fizesse mais, que não entrasse, que se precavesse dos animais”, diz.
Em outro vídeo, uma pessoa chama a atenção do menino.
Repórter: O senhor viu o momento em que ele pulou a cerca? A primeira cerca?
Marcos: Não. A primeira vez, não.
Repórter: Ele pulou a cerca sozinho.
Marcos: Sim.
Repórter: Não foi o senhor que o colocou lá dentro?
Marcos: Não, de maneira alguma. Agora, quando eu vi a situação, era uma situação que eu vi que estava sob controle. O leão estava muito tranquilo.

Depois de tentar dar o osso ao leão, Vrajamani vai para a jaula do tigre. Quando menino se pendura na grade, o tigre tentar morder os pés dele.

Repórter: As imagens mostram ele escalando a grade. O senhor chegou a ver isso?
Marcos: Quando eu vi, foi que eu falei para ele não fazer isso.
Repórter: E ele?
Marcos: Ele estava empolgado.
Repórter: E aí, na empolgação.
Marcos: E um pouco de teimosia...
Repórter: O senhor chegou a ouvir outras pessoas dizendo 'cuidado, tira o menino dali'? Porque algumas pessoas estavam relatando que disseram que tentaram alertar o senhor, o menino.
O menino, então, desce da grade e passa a correr de um lado para o outro, sempre acompanhado pelo animal. Vrajamany vai e volta três vezes.

“Aquele fato de a criança ficar correndo na frente do recinto, para o animal, aquilo era uma caça que estava se deslocando. Então, ele só estava esperando o melhor momento de atacar”, afirma o veterinário responsável pelo zoológico Valmor Passos.

Depois de correr em frente à jaula, Vrajamani para e quase coloca a mão no focinho. Aí, ele passa o braço pela grade e toca no tigre.

O pai diz que nessa hora ficou preocupado com a possível reação do filho pequeno.

“Quando aconteceu de novo, que ele estava mexendo com o tigre, eu estava com o pequenininho no colo. 

E o pequenininho se envolvendo. Podia querer acabar fazendo também igual. De repente aconteceu aquilo, em uma correria muito grande, consegui deixar o pequeno e correr para acudir ele. Tentei fazer o que pude pelo meu filho. Eu coloquei a mão na boca, enfiei o dedo no olho no tigre, nos dois olhos dele. E ele não se mexeu, enfiei o outro. Eu achei que funcionasse e ele nem ligou, o tigre”, ele conta.

No vídeo, o pai aparece com Vrajamani nos braços. Ele recebe a ajuda de um homem, que coloca o menino deitado na grama, longe da jaula.

A mãe do menino, de quem Marcos está separado há mais de dez anos, diz que não culpa o ex-marido pela tragédia. Ela prefere não mostrar o rosto nem ter a identidade divulgada: “Acidente acontece. Podia ter sido o meu filho, o filho de outra pessoa”, declarou.

A polícia civil investiga se houve negligência por parte do pai do menino ou por parte do zoológico. O delegado responsável pelas investigações ouviu o depoimento de Marcos do Carmo Rocha no dia em que o filho dele foi atacado pelo tigre.

As testemunhas e os funcionários do zoológico vão prestar depoimento esta semana.

Mas o advogado afirma que a responsabilidade é do zoológico: “Eles são prestadores de um serviço, um serviço que tem um perigo inerente e eles têm a obrigação de proteger os consumidores de eventuais acidentes”, defende.

O Zoológico de Cascavel tem nove vigias. O responsável pela área dos felinos cuida também de outras duas áreas. Segundo o veterinário responsável pelo zoológico, o local cumpre com todas as medidas obrigatórias de segurança. “Para uma atitude impensada, imprudente, não há normas técnicas que resistam”, avalia Valmor Passos.

O menino ainda vai ficar internado na ala pediátrica do Hospital Universitário de Cascavel, pelo menos, até terça-feira (5). Segundo os médicos, ele se salvou por muito pouco.

As garras do tigre dilaceraram o braço e a mão direita do menino. Os médicos avaliaram que não havia chance de reconstrução. Como ele estava perdendo muito sangue, decidiram amputar o braço para salvar a vida do menino.

“Ele está se alimentando, levanta, conversa, está progredindo bem rápido. Está se recuperando. Tem que ser forte, porque a vida continua. Estamos vivos, e a vida continua”, diz a mãe.

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