sábado, 14 de junho de 2014

REVOLTA: MÃE SEPULTA FILHA QUE NASCEU NA RECEPÇÃO DO HOSPITAL

O hospital Manoel Novaes, em Itabuna, foi palco, esta semana, de um episódio chocante que provocou revolta e indignação de quem estava no local, na madrugada de segunda-feira (9). Uma jovem de 18 anos, moradora de Ibicaraí, deu à luz uma menina, na recepção da instituição, depois de esperar atendimento por mais de três horas. A criança morreu.
No entanto, ainda não se sabe a real causa da morte: se pela demora no atendimento ou asfixia. Nem mesmo foi feita uma necropsia no corpo do bebê, sepultado na tarde de terça-feira (10). O drama de Arleane Oliveira dos Santos foi exposto, inclusive, num vídeo divulgado nas redes sociais e compartilhado por milhares de internautas, em sinal de protesto contra o descaso na saúde pública.
 

A paciente em questão peregrinou por três hospitais – um em Ibicaraí e dois em Itabuna, após a bolsa romper aos sete meses de gestação. Era por volta das 22 horas de domingo (08), quando ela deu entrada no Hospital Arlete Maron, em Ibicaraí.

Ao Diário Bahia, Danielle Rocha Pinheiro, amiga e acompanhante da moça, relatou que o médico nem examinou a gestante. Da porta mesmo, o profissional teria justificado que o hospital era de pequeno porte e não tinha estrutura para partos de risco, o que era o caso de Arleane. Por este motivo, o obstetra a encaminhou para Itabuna.

Chegando nesta cidade, a mulher foi levada numa ambulância, inicialmente, para a Maternidade Ester Gomes (Mãe Pobre). Lá, foi submetida a um exame de toque. Porém, a enfermeira, constatando a gravidade, informou que o hospital não possuía UTI Neo-Natal.

"Saiu os pés"

Sentindo muitas dores, Arleane chegou ao Novaes às 23h30min. "Disseram que não tinha vaga e que era para a gente procurar outro hospital. Invadi a enfermaria, disse que minha amiga estava com sete meses, que estava perdendo líquido e que era parto de risco. Mesmo assim, não atenderam", lembrou Danielle.

Diante dos olhares perplexos de todos que estavam ali, a mulher entrou em trabalho de parto. Willian Oliveira, responsável pelas imagens, descreveu em sua página no Facebook os momentos de desespero vividos pela jovem: "A gente já podia ver nitidamente metade dos pés da criança até os joelhos. Uma paciente, ouvindo os gritos de socorro, saiu da enfermaria sendo que esta estava com uma criança de mais ou menos quatro meses. Deixou sua filha com um desconhecido e começou a tentar puxar a criança que estava nascendo. Saiu o tórax, mãos, ombro, e a criança estava se mexendo, mesmo com a mãe não tendo quase força. Todos viram o corpo da criança se debatendo por cerca de uns três minutos".

Naquela madrugada, o homem acompanhava a esposa e a filha, que foi atendida na pediatria do Novaes. "Quando saiu os pés da criança ao invés da cabeça, foi como um filme de terror na recepção daquele hospital", narrou em outro trecho da postagem.

Só depois isso é que uma enfermeira apareceu na recepção com uma bandeja de curativos. Atrás dela, outro funcionário chegava com uma maca, levando a paciente para o interior do hospital. "A médica disse que a menina estava morta há dias. Mas isso é mentira. Na maternidade (Mãe Pobre), a enfermeira ouviu os batimentos cardíacos", relatou Danielle.

Segundo ela, a amiga não fez pré-natal por conta de problemas familiares, porém não entrou em detalhes. "Arleane só descobriu que estava grávida aos quatro meses. Eu já estava planejando fazer um chá de bebê", lamentou a moça. De acordo com a estudante, a paciente já está em casa e tenta se conformar com o que aconteceu.

Além da dor pela morte da filha, Arleane enfrenta a vergonha e a humilhação que, certamente, deixarão marcas pelo resto da vida. "Ela não quer nem sair de casa. A família quer justiça, para que outros casos como esse não voltem a acontecer de novo", disse Danielle.

Nota de esclarecimento

O atendimento da gestante teria sido dificultado porque ela não apresentava um encaminhamento do médico que a atendeu em Ibicaraí. Em nota, a Santa Casa de Misericórdia, mantenedora do Hospital Manoel Novaes, informou que está averiguando a situação e deu todo o suporte necessário à paciente. "Lamentamos o exposto", finalizou a nota.

(Texto Simone Nascimento Diario Bahia)

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