O
hospital Manoel Novaes, em Itabuna, foi palco, esta semana, de um
episódio chocante que provocou revolta e indignação de quem estava no
local, na madrugada de segunda-feira (9). Uma jovem de 18 anos, moradora
de Ibicaraí, deu à luz uma menina, na recepção da instituição, depois
de esperar atendimento por mais de três horas. A criança morreu.
No entanto,
ainda não se sabe a real causa da morte: se pela demora no atendimento
ou asfixia. Nem mesmo foi feita uma necropsia no corpo do bebê,
sepultado na tarde de terça-feira (10). O drama de Arleane Oliveira dos
Santos foi exposto, inclusive, num vídeo divulgado nas redes sociais e
compartilhado por milhares de internautas, em sinal de protesto contra o
descaso na saúde pública.
A paciente em
questão peregrinou por três hospitais – um em Ibicaraí e dois em
Itabuna, após a bolsa romper aos sete meses de gestação. Era por volta
das 22 horas de domingo (08), quando ela deu entrada no Hospital Arlete
Maron, em Ibicaraí.
Ao Diário
Bahia, Danielle Rocha Pinheiro, amiga e acompanhante da moça, relatou
que o médico nem examinou a gestante. Da porta mesmo, o profissional
teria justificado que o hospital era de pequeno porte e não tinha
estrutura para partos de risco, o que era o caso de Arleane. Por este
motivo, o obstetra a encaminhou para Itabuna.
Chegando nesta
cidade, a mulher foi levada numa ambulância, inicialmente, para a
Maternidade Ester Gomes (Mãe Pobre). Lá, foi submetida a um exame de
toque. Porém, a enfermeira, constatando a gravidade, informou que o
hospital não possuía UTI Neo-Natal.
"Saiu os pés"
Sentindo muitas
dores, Arleane chegou ao Novaes às 23h30min. "Disseram que não tinha
vaga e que era para a gente procurar outro hospital. Invadi a
enfermaria, disse que minha amiga estava com sete meses, que estava
perdendo líquido e que era parto de risco. Mesmo assim, não atenderam",
lembrou Danielle.
Diante dos
olhares perplexos de todos que estavam ali, a mulher entrou em trabalho
de parto. Willian Oliveira, responsável pelas imagens, descreveu em sua
página no Facebook os momentos de desespero vividos pela jovem: "A gente
já podia ver nitidamente metade dos pés da criança até os joelhos. Uma
paciente, ouvindo os gritos de socorro, saiu da enfermaria sendo que
esta estava com uma criança de mais ou menos quatro meses. Deixou sua
filha com um desconhecido e começou a tentar puxar a criança que estava
nascendo. Saiu o tórax, mãos, ombro, e a criança estava se mexendo,
mesmo com a mãe não tendo quase força. Todos viram o corpo da criança se
debatendo por cerca de uns três minutos".
Naquela
madrugada, o homem acompanhava a esposa e a filha, que foi atendida na
pediatria do Novaes. "Quando saiu os pés da criança ao invés da cabeça,
foi como um filme de terror na recepção daquele hospital", narrou em
outro trecho da postagem.
Só depois isso é
que uma enfermeira apareceu na recepção com uma bandeja de curativos.
Atrás dela, outro funcionário chegava com uma maca, levando a paciente
para o interior do hospital. "A médica disse que a menina estava morta
há dias. Mas isso é mentira. Na maternidade (Mãe Pobre), a enfermeira
ouviu os batimentos cardíacos", relatou Danielle.
Segundo ela, a
amiga não fez pré-natal por conta de problemas familiares, porém não
entrou em detalhes. "Arleane só descobriu que estava grávida aos quatro
meses. Eu já estava planejando fazer um chá de bebê", lamentou a moça.
De acordo com a estudante, a paciente já está em casa e tenta se
conformar com o que aconteceu.
Além da dor
pela morte da filha, Arleane enfrenta a vergonha e a humilhação que,
certamente, deixarão marcas pelo resto da vida. "Ela não quer nem sair
de casa. A família quer justiça, para que outros casos como esse não
voltem a acontecer de novo", disse Danielle.
Nota de esclarecimento
O atendimento
da gestante teria sido dificultado porque ela não apresentava um
encaminhamento do médico que a atendeu em Ibicaraí. Em nota, a Santa
Casa de Misericórdia, mantenedora do Hospital Manoel Novaes, informou
que está averiguando a situação e deu todo o suporte necessário à
paciente. "Lamentamos o exposto", finalizou a nota.
(Texto Simone Nascimento Diario Bahia)
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