sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

FAMÍLIAS PAGAM R$ 15 DE COMBUSTÍVEL EM ÔNIBUS ESCOLAR: 'DEIXO DE COMER'

Estudantes que moram na zona rural de Casa Nova, no norte do estado, enfrentam dificuldades para ir à escola. Os pais dos alunos estão colocando combustível nos poucos ônibus escolares que ainda circulam. Segundo os motoristas do transporte, a prefeitura não tem pago pelo serviço deles.

A sorte do agricultor Lourival Oliveira é a moto. Ele deixa a filha todos os dias no ônibus. São dois litros de gasolina diariamente, fora os R$ 15 do ônibus, um custo de R$ 65 por semana, e que não estava no orçamento. “Para não perder o ônibus porque já está no fim do ano. Se perder, volta para trás de novo. Aí é o jeito. Deixa de comer para fazer isso”, relata o agricultor.
Estudantes aguardam mais de uma hora por transporte escolar  (Foto: Reprodução/TV São Francisco)
Estudantes aguardam mais de uma hora por
transporte escolar (Foto: Reprodução/
TV São Francisco)
Os irmãos Paulino e Felipe aguardam mais de uma hora pelo ônibus que leva os dois para a escola, que fica na zona urbana da cidade. A espera, além de cansativa, ocorre sem nenhum conforto.
“A gente chega aqui, mais ou menos uma hora antes do ônibus passar e espera nesse sol quente”, disse o estudante Paulino dos Passos.

Há dois meses o serviço de transporte escolar do município está parado. Os motoristas estão com os salários atrasados e decidiram suspender o trabalho. Os poucos ônibus que ainda fazem o percurso do campo para a cidade só funcionam porque os pais decidiram pagar o combustível.

A sorte do agricultor Lourival Oliveira é a moto. Ele deixa a filha todos os dias no ônibus. São dois litros de gasolina diariamente, fora os R$ 15 do ônibus, um custo de R$ 65 por semana, e que não estava no orçamento. “Para não perder o ônibus porque já está no fim do ano. Se perder, volta para trás de novo. Aí é o jeito. Deixa de comer para fazer isso”, relata o agricultor.

“Chegou no limite que não tinha mais como o dono do ônibus botar combustível para ir para Casa Nova. A mãe de um aluno ligou para o dono do ônibus e combinaram para colocar o combustível para transportar os alunos, para que eles não perdessem de ano pelo motivo do transporte”, disse o motorista Antônio dos Santos.

Mãe mostra lista com relação de pagamento do combustível (Foto: Reprodução/TV São Francisco)
Mãe mostra lista com relação de pagamento do
combustível (Foto: Reprodução/TV São Francisco)
A mãe de um aluno, Gildete Rocha, mostrou a lista com os nomes e os valores pagos por estudante: R$ 15 reais por semana. Essa foi a solução que ela encontrou para que os filhos não perdessem o ano letivo. “Tem uns que tiram do Bolsa Família, outros dão uma galinha que tem no terreiro para a pessoa pagar o transporte de escola, que é o que está acontecendo. Não era para nós estarmos pagando, porque o governo manda essa verba e essa verba está entrando onde, a verba da educação?”, questiona Gildete.

Mesmo assim o combustível não é suficiente para que os ônibus circulem por todos os pontos de parada. Antes ele passava perto da casa de Djair Barbosa, mas atualmente para bem longe. Ela e as três filhas precisam caminhar mais de dois quilômetros para pegar o transporte. “Elas reclamam demais porque é longe e é cansativo para elas que são pequenas elas andarem esses quilômetros. Não tem outra alternativa”, lamenta.

Dentro do ônibus falta espaço, falta banco. Muitos estudantes viajam em pé. A estudante Maiane Nunes passa mais de uma hora assim. “É muito calor, tem muita gente que passa mal e não aguenta porque vai em pé, porque é muito cheio. Já chego cansada, com vontade de só sentar. Não dá ânimo para estudar”, conta.
O agricultor José Carlos e a filha moram na comunidade de Riacho Grande, que fica que fica a 42 quilômetros de Casa Nova. No caso deles, o transporte escolar não passa por lá e a solução encontrada por seu José Carlos foi levar a filha para a casa da irmã dele, que mora na sede do município. “Desde o início de outubro que o ônibus escolar não baixa mais e aí eu conversei com a minha irmã, perguntei se ela ficava com a minha filha aqui, para terminar o ano letivo que já está perto de terminar, e aí para ela não perder o ano, ela disse que aceitava”, relatou José Carlos.
Pai espera até quatro horas para levar e buscar filhas na escola (Foto: Reprodução/TV São Francisco)
Pai espera até quatro horas para levar e buscar
filhas na escola (Foto: Reprodução/
TV São Francisco)
Josenor Silva, agricultor, não tem parentes em Casa Nova e todo dia vai de moto com as duas filhas em um percurso de mais de 20 quilômetros até a escola onde elas estudam e só vai embora quando a aula termina. São mais de quatro horas de espera. “Não tem outro jeito não, é isso mesmo. Porque eu não tenho casa aqui na rua para deixar as minhas filhas, e deixar elas aqui abandonadas eu não posso, que elas são menores de idade, a responsabilidade é minha e eu tenho que vim nesse sofrimento, gastando muito mesmo”, reclama Josenor.

Em nota, a prefeitura de Casa Nova disse que o transporte escolar continua sendo feito no interior do município normalmente. Disse ainda que o problema mostrado na reportagem se refere a algumas rotas de responsabilidade do governo do estado.

Segundo a prefeitura, os motoristas dessas rotas estão com os salários atrasados há cinco meses por que o governo do estado não está repassando a verba. Já a secretaria de Educação do estado disse, em nota, que o repasse está suspenso por causa da falta de prestação de contas da prefeitura ao programa estadual de transporte escolar.

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